domingo, 24 de abril de 2011

Educação e sociedade da aprendizagem: um olhar sobre o potencial educativo da internet


O potencial educativo da internet

Muito se tem falado e escrito sobre as virtualidades e potencialidades da utilização educativa dos serviços da internet. Como rede mundial de computadores que disponibiliza diversos serviços como a World Wide Web ou simplesmente WEB que nos permite aceder através de um browser a uma série de documentos interligados, a internet faz parte integrante da vida de todos nós que a ela recorremos para aceder a um mundo imenso de informação e comunicar com o mundo.
A influência da internet na educação é visível a vários níveis tanto nos modelos de formação presencial como, e sobretudo, nos de formação a distância e/ou mistos – blended learning (Silva, 2002).
Com a implementação das redes, o ensino a distância combina-se com a possibilidade de comunicação instantânea, de criação de grupos de aprendizagem, integrando a aprendizagem pessoal com a de grupo. Cada vez se produz mais informação online socialmente partilhada.
Machado (2006) refere que com a internet se abriram no mundo do ensino novas possibilidades que podemos considerar divididas em dois grupos: uma, em que o computador funciona como suporte a novos ambientes de aprendizagem e outra, que vem dar uma nova vivência à educação à distância através de diversas modalidades de educação online.
Castells (2002) refere que a internet contribui para um sistema científico global, conduzindo a alterações na economia, na cultura e no quotidiano de cada um.
São frequentemente enumeradas como fragilidades da internet o facto de constituir um emaranhado amorfo e caótico de informações, onde predominam as opiniões em detrimento dos factos, dada a liberdade de criação de páginas web, onde cada um escreve ao sabor das suas paixões e convicções. A este respeito, considera Machado (2006) salienta que apesar dos ambientes com recurso à internet facultarem potencialidades educativas, há que ter em atenção alguns problemas que podem surgir, tais como o excesso de informação e a falta de qualidade da informação, opinião esta partilhada por António Bartolomé (2005) e também Silva (2002).
Levy (2000) acrescenta ainda o problema do isolamento, da dependência (vício da navegação) e ainda da dominação (domínio quase monopolístico das potencias económicas sobre importantes funções da rede). Ainda que considerando a pertinência da influência destes factores nefastos, a verdade é que não devem obstar a que consideremos os inúmeros aspectos positivos que nos podem trazer.
Neto (2006), sintetiza os aspectos mais relevantes da utilização da internet na facilitação das aprendizagens: Flexibilidade de tempo; Independência geográfica; Baixos custos; Acesso a fontes de informação; Perenidade da informação; Aprendizagem activa; Espírito crítico; Partilha do saber; Existência de público; Educação global; Abertura ao mundo; Motivação.

A internet em contexto educativo

Machado (2006) salienta que a internet veio facilitar a comunicação na escola a vários níveis: entre professores, entre alunos e entre a escola e os pais ou encarregados de educação. Podemos assim dizer que a internet veio facilitar o processo de comunicação entre toda a comunidade escolar.
Campos, Villela e Santos (2006), Morais et al. (2003) e ainda Machado (2006) sistematizam o conjunto de meios que através da internet ficam ao nosso dispor para a comunicação e para a aprendizagem:
Ferramentas de comunicação síncronas: chat, videoconferência e audioconferência (permite discussões em tempo real).
Ferramentas de comunicação assíncrona: os mais conhecidos são o email, o fórum, os newsgroups, as listas de discussão e os quadros de aviso. A estes pode-se ainda acrescentar, segundo Charnitski e Croop (2000) e ainda Weston (2000): groupware; bulletin boards; gestão de projectos; sistemas de co-autoria; quiz tools.
Nestes ambientes pode ainda dispor-se de uma ajuda online para professores e alunos com acesso a FAQ’s (lista de perguntas frequentes). A utilização de ambientes de comunicação assíncrona é mais propício a uma “aprendizagem profunda”, já que, como sublinham Miranda e Dias (2003: p. 240), a reflexão permitida pelo “modo assíncrono pode conduzir os participantes a uma mais profunda compreensão das ideias em discussão”.

A internet veio oferecer inúmeras possibilidades de pesquisa para professores e alunos, dentro e fora da sala de aula.
Moran (2005) refere duas formas distintas de iniciar os alunos na pesquisa de informação na internet: (i) “a pesquisa de grupo na internet pode começar de forma aberta, dando somente o tema sem recurso a sites específicos” (Moran, op.cit., p.81); ou (ii) o mesmo tema pode “ser pesquisado no mesmo endereço, de forma semelhante por todos, resultando no aprofundamento dos dados conseguidos e evitando o alto grau de entropia e dispersão” que pode acontecer na pesquisa aberta (Moran, op. Cit., p. 82).
O conhecimento que é elaborado a partir da própria experiência torna-se muito mais forte e definitivo” Moran (op.cit, p. 83).
As WebQuests são um bom exemplo de ferramenta de utilização da pesquisa na internet ao serviço do ensino e da aprendizagem. Estas são um modelo simples para dimensionar o uso educativo da web, favorecendo a aprendizagem colaborativa e os processos investigativos na construção do saber.
O trabalho cooperativo e colaborativo é um dos princípios da WebQuest, uma vez que o objectivo desta estratégia pedagógica é o de modificar o uso individualista do computador para um formato mais participativo onde os utilizadores colaboram entre si para resolver o problema de cada tarefa proposta na WebQuest.

Os desafios da Web 2.0

O termo Web 2.0, da autoria de Tim O’Reilly, surgiu numa sessão de brainstorming no MediaLive Internacional e, desde Outubro de 2004, tem vindo a ser popularizado como a nova tendência da Internet. A partir dessa altura, o termo tem sido usado para descrever não só uma série de conceitos e tecnologias, mas também uma atitude face a essas tecnologias, ferramentas e serviços Web. Graças à facilidade de criação e publicação de páginas online, qualquer utilizador, sem grandes conhecimentos informáticos ou de programação, pode ser produtor e consumidor de informação.
Com o termo Web 2.0, salientamos uma mudança de paradigma sobre a concepção da Internet e suas funcionalidades, que agora abandonam a sua marca unidireccional e se orientam para promover uma maior interacção entre os utilizadores e o desenvolvimento de redes sociais (tecnologias sociais) onde se podem expressar e julgar, resumir e partilhar conteúdos, colaborar e criar conhecimento (conhecimento social).
Um ponto que nos parece importante destacar é a possibilidade de qualquer pessoa poder criar, publicar e partilhar informação, de forma gratuita, rápida, simples e fácil. A Web é uma plataforma promotora da inteligência colectiva e de experiências enriquecedoras nos mais diversos campos. O aspecto interactivo e colaborativo da Web 2.0 permitiu uma nova forma de inteligência, a inteligência colectiva, que surge da colaboração de um grupo de indivíduos para gerar novos conteúdos, melhorando os conteúdos existentes.
Com o aparecimento da Web 2.0 surgiram novas formas de comunicar, interagir e estar na Web.
Podemos destacar algumas ferramentas que estão disponíveis na Web 2.0, tais como, os blogs, o Hi5, o Orkut, o Ning (softwares que permitem a criação de uma rede social); blogs, wikis, podcast, Google Docs e Spreadsheets (Ferramentas de escrita colaborativa); o SKYPE, messenger, Voip, Google Talk (Ferramentas de comunicação online); YouTube, GoogleVideos, YahooVideos (Ferramentas de acesso a vídeos); Del.icio.us (Ferramentas de social bookmarking).

Para Martindale e Wiley (2005); Du e Wagner (2005); Brescia e Miller (2006); Coutinho e Bottentuit Junior (2007b) as ferramentas Web 2.0 com potencial educativo são os blogs, os wikis e ainda os podcasts.
O blog é a ferramenta da Web 2.0 mais conhecida e em contexto educativo. Podemos descrevê-la como sendo um registo publicado na Internet relativo a algum assunto e organizado cronologicamente (como um diário). Pode ainda permitir comentários dos leitores aos textos publicados (denominados posts). Tem como grande vantagem o facto de o autor do blog não necessitar de saber construir páginas para a Internet, ou trabalhar com código.
Diversos autores avaliam o impacto desta ferramenta em contexto educativo, e constatam que: o blog é uma óptima ferramenta para a gestão do conhecimento em comunidade; para a criação de portfolios individuais ou de grupo; para desenvolver estratégias de aprendizagem cooperativa/colaborativa; para auxiliar as aulas presenciais; para facilitar a auto percepção do aluno sobre o seu processo de aprendizagem, e ainda, para fomentar a comunicação professor/aluno e aluno/aluno para além do espaço de sala de aula.
Wiki, é uma aplicação web que permite que vários utilizadores possam construir documentos em conjunto e de forma colaborativa. É uma tecnologia fácil de utilizar a partir de um browser. O utilizador poderá então criar um documento ou editar um já existente, e por norma não existe qualquer revisão antes da publicação. Coutinho e Bottentuit Junior (2007b) são a favor do potencial da ferramenta wiki para o desenvolvimento de trabalhos que envolvam a escrita colaborativa e a aprendizagem por projectos.
O podcast apresenta enormes potencialidades em educação, no entanto, elas só serão efectivamente rentabilizadas se forem de encontro às necessidades e expectativas dos alunos. Os podcasts são uma tecnologia emergente, com um potencial ligado à possibilidade de pensar uma rede mais ampla e territorial que pede trabalho em conjunto e ideias inovadoras para gerar outras formas de informação.
Outras das ferramentas que podemos explorar e utilizar em contexto educativo são: o Google Calendar; Docs & Spreadsheets, Google Sites, De.lici.ous, Messenger, Skype e Google Talk.

Tecnologias na escola: utopia ou realidade?

A utilização educativa das TIC em geral, e dos serviços da internet em particular, pode funcionar como factor catalisador de mudanças fundamentais nos processos de ensino e aprendizagem, viabilizando novas formas de aprender em contextos diversificados (reais ou virtuais) de aprendizagem.
Sabe-se hoje que são ainda poucas as escolas portuguesas que têm conseguido vivenciar práticas inovadoras capazes de ampliar os espaços de aprendizagem para além da sala de aula formal, eliminando as barreiras do tempo e do espaço, criando e desenvolvendo verdadeiras comunidades de aprendizagem.
Não faz pois sentido continuar a ignorar o potencial educativo da internet, pelo contrário teremos de ser todos quantos queremos mais e melhor Educação a explorar a diversidade de oportunidades que tem para oferecer e que importa investigar.


Referência bibliográfica do artigo analisado: